terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Leitura e comentário

No texto abaixo, Zuenir Venturafaz uma crítica a leitura obrigatória dos clássicos no ensino básico. Para ele, a obrigatoriedade de ler obras de José de Alencar, MAchado de Assis, entre outros, apenas afasta os alunos da leitura. 

Achei a opinião radical e o texto um pouco simplista, pois ele apresenta poucas soluções. 

O que vocês acham? Concordam com o autor? Conseguem pensar em outra saída para as leituras escolares? 

 

 

Como (não) formar leitor (Artigo)



O Globo - RJ, Zuenir Ventura, em 10/02/2010



Por que o brasileiro um livro por ano, enquanto o americano e o europeu leem sete, oito vezes mais? Por que existem no país mais de 70 milhões de pessoas que não leem? Há várias respostas para explicar o fenômeno: baixo nível cultural de um povo com 21 milhões de analfabetos, poder aquisitivo insuficiente, falta de hábito, concorrência da televisão e da internet. Esta semana tomei conhecimento de outro fator, que é mais grave do que os outros, pois deveria ser instrumento de atração de leitores e é, ao contrário, de afastamento. Refiro-me ao aprendizado da leitura nas escolas de nível médio.



Um amigo, pai de um aluno do segundo ano, adolescente, mandou-me uma lista dos livros que o filho deverá ler neste semestre. Quem sabe eu não teria um ou outro para emprestar? Não vou citar a relação completa para não entediá-los. Eis alguns: “Senhora” e “Iracema”, de José de Alencar; “O cortiço”, de Aluisio de Azevedo; “Memórias de um sargento de milícias”, de Manoel Antonio de Almeida; “Recordações do escrivão Isaías Caminha”, de Lima Barreto; “Memórias póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis; “Memórias sentimentais de João Miramar”, de Oswald de Andrade (esqueci de perguntar se o curso era de memorialística).



Não vou entrar no mérito de uma seleção que mistura um clássico como “Brás Cubascom obras de discutível qualidade estética ou literariamente datadas, comoSenhora” e “Iracema”. O que eu me pergunto é se a melhor maneira de iniciar um jovem na leitura é forçando-o, por exemplo, a digerir a história de amor da índiazinha virgem dos cabelos negros, se hoje até o ministro Edison Lobão tem os seusmais negros do que a asa da graúna”.



Experimente tirar seu filho da frente do computador oferecendo-lhe um texto assim: “Iracema saiu do banho; o aljôfar d’água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do guará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste. A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de chama a virgem pelo nome.” Antes que me acusem de desprezar estilos e valores de época, esclareço que implico é com essa maneira inadequada de se levar um aluno de 15, 16 anos ao prazer da leitura. Comigo, no ginásio, me fizeram odiar os Lusíadas ao me obrigarem a “análises lógicasem que eu deveria procurar o sujeito oculto de uma frase, como se fosse um detetive. mais tarde, na faculdade, e graças à professora Cleonice Berardinelli, descobri a beleza que havia no magistral épico de Camões. Para o gosto de um jovem de hoje, diante de tantos apelos audiovisuais, não seria mais palatável, como começo de conversa, um Rubem Braga ou um Fernando Sabino?




Zuenir Ventura é jornalista e escritor , colunista do jornal O Globo e da revista Época.

4 comentários:

  1. Eu começei a ler Iracema hoje e não sei nem se vou chegar na metade . Depois , ainda terei que ler Machado de Assis . Enfim , estou muito ferrado .

    Mas o mais curioso é que eu gosto muito de ler e escrever mas essas coisas de 200 anos atrás não dá , né ?

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  2. Creio que ao lermos este tipo de livro não fará nós assimilarmos o conteúdo . A leitura tem que ser incentivada e não obrigada .

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  3. O incentivo a leitura deve ser bidirecional. Ao mesmo tempo que o livro deve fornecer prazer ao leitor (nas suas variadas formas) este deve buscar no livro o que lhe agrada. De nada adianta forçar uma barra, nós acabamos bloqueando muitas coisas e "traumatizando" em relação à outras. Leio vários livros, dos "complicados" aos mais com a cara do século XXI, mas creio que tudo fica bem de acordo com o gosto natural de cada indivíduo. Principalmente os jovens, como nós.

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  4. É verdade, meninos, não devemos sofrer com a leitura. Mas também devemos estar abertos ás leituras clássicas, pois, muitas vezes, vencida a primeira barreira, descobrimos o quanto é interessante conhecer outros contexto de época, costumes, linguagem etc!
    Adorei a participação!
    Continuem visitando!
    beijos!!

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